A minha única realidade resumia-se às quatro paredes daquela casa escura e fria. Havia apenas mais uma mulher vivendo comigo. Foi com ela que aprendi que não existiam outras pessoas no universo e que a luz do sol, sobre a qual li muitas vezes nos livros, era apenas fictícia.
Hoje eu entendo que todas aquelas palavras e informação que recebia era uma forma que aquela mulher tinha de me manter presa a ela e à casa. Eu acreditava e sabia apenas o que lhe convinha. Ela me controlava dizendo que a grande porta no final do corredor não deveria ser aberta: era perigoso atravessá-la e não havia nada além dela.
Geralmente, eu vagava os corredores durante horas tentando buscar algo novo em que acreditar. Novas realidades, talvez. Algo que pudesse tomar conta de um vazio que eu sentia. Naquele dia foi diferente: vi uma janela na sala sobre a qual nunca tinha demorado o olhar.
Por um momento senti uma grande vontade de abri-la. Porém, algo me deteve. Não, eu não estava pronta para descobrir um mundo além do que eu vivia. Sentia que faltavam algumas explicações, mas eu não tinha coragem de desvendá-las.
Apesar de não tê-la aberto, a janela não saia de minha cabeça. Corri para o quarto daquela mulher que morava comigo.Tinha a certeza de que ela me daria uma explicação dentro de tudo o que eu sempre acreditei. Mas ela estava morta na cama.
Não pude crer. Não era apenas uma pessoa que morria. Morria o mundo no qual ela me fizera acreditar, minha realidade. Percorri pela última vez aqueles corredores e decidi que eu podia destravar aquela porta e aquele mundo que me bloquevam. E foi então que eu abri a porta e não acreditei no que via...
2003
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