Confesso que vivi. O Nerruda está assim, na cabeceira da minha cama, contando um pouco das suas histórias por dia, tirando o meu sono, me ninando, me embalando, me desafiando. Confessando-me que viveu. E hoje cá estou eu. Entre o Nerruda e o Tchéckhov, tentando construir uma cena. Um decisão. Uma vida. Entre a Irina, e a mulher dos olhos verdes. A duas semanas de uma estreia, da estreia de um projeto que me encanta, me instiga, me move e me apaixona a cada ensaio, a cada segunda e quarta feira.
O sol lá fora e eu aqui, vivendo nas paredes do meu quarto. Deitando na cama, escrevendo no computador. Porque amanha é segunda e vida bate na porta. A vida não, a sobrevida. E eu tenho vivido na dúvida. Mas por mais bizarro que pareça tenho descobrido muitas coisas. Porque depois das responsabilidades, que dificultam a vida, eu descobri um sabor especial em cada vitória e conquista. Cada passo que eu acerto é meu, só meu. A alegria vem em dobro me arrastar e me virar de ponta cabeça.
Agora eu acenderia um cigarro, se por acaso eu fumasse.
domingo, 28 de novembro de 2010
sábado, 13 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Espelho
Sentou-se na platéia e queria de qualquer maneira lembrar-se da história da peça. Vinham-lhe outros Nelsons Rodrigues: as mulheres, as fugas, os filhos, as botinas, a insônia e a náusea. Mas os afogados faltavam-lhe. Mesmo que já houvesse lido, não se lembrava nem mesmo quem era a senhora dos afogados. Abandonou-se então como espectadora. E pode.
Simplesmente espectadora de teatro. Quando mais podia respirá-lo. Respirava teatro e vida. E pedia licença a todos os clichês. Porque assim era. E, claro aos fragmentos da pós-modernidade. E teve um súbito medo de esquecer as descobertas que eram suas. Quis agarrá-las com todas as suas forças. Quis escrever. Esquecer-se de todo o resto.
O teatro estava tão cheio que sentiu-se invadida. Egoísta, não tinha vontade de compartilhar a dita experiência estética com tanta gente. Bem como as suas lágrimas. Porque não podiam deixá-la sozinha? O palco centralizava as histórias reais e ficcionais. E não havia mais real e ficcional. Havia uma sensação física. Uma dor. E lágrimas.
Não podiam poupá-la de ser sozinha. Por que então tentavam tirar-lhe aquele direito? Por um instante pudera olhar no espelho, sozinha. Sozinha entre quatro paredes brancas. Escondeu-se no canto. Procurando por si. Uma lágrima refez o desenho do seu rosto. E seu rosto parecia disforme. E era tão puro.
E a menina da cena não mais podia olhar o seu rosto no espelho. Tantas faces diante do espelho. Tantas perguntas diante dessa face. Face que é página em branco. Passou a mão no rosto para concretizar algumas linhas. As falas da peça e pessoas a sua volta perguntando-lhe por lhe caíra uma lágrima. E seguraram aquela lágrima. Não a deixaram terminar de escorrer.
Releu o texto que escrevia. Juntava o teatro e a vida e as suas histórias e verdades. Os tais jogos cênicos. As tais ações, e escreveu. Transformava a sua respiração em narrativa. Quis ainda falar do outro, depois de discorrer sobre si, e não pode. O outro era algo tão puro que resumia-se apenas em um abraço. E em um olhar que ainda queria guardar.
Simplesmente espectadora de teatro. Quando mais podia respirá-lo. Respirava teatro e vida. E pedia licença a todos os clichês. Porque assim era. E, claro aos fragmentos da pós-modernidade. E teve um súbito medo de esquecer as descobertas que eram suas. Quis agarrá-las com todas as suas forças. Quis escrever. Esquecer-se de todo o resto.
O teatro estava tão cheio que sentiu-se invadida. Egoísta, não tinha vontade de compartilhar a dita experiência estética com tanta gente. Bem como as suas lágrimas. Porque não podiam deixá-la sozinha? O palco centralizava as histórias reais e ficcionais. E não havia mais real e ficcional. Havia uma sensação física. Uma dor. E lágrimas.
Não podiam poupá-la de ser sozinha. Por que então tentavam tirar-lhe aquele direito? Por um instante pudera olhar no espelho, sozinha. Sozinha entre quatro paredes brancas. Escondeu-se no canto. Procurando por si. Uma lágrima refez o desenho do seu rosto. E seu rosto parecia disforme. E era tão puro.
E a menina da cena não mais podia olhar o seu rosto no espelho. Tantas faces diante do espelho. Tantas perguntas diante dessa face. Face que é página em branco. Passou a mão no rosto para concretizar algumas linhas. As falas da peça e pessoas a sua volta perguntando-lhe por lhe caíra uma lágrima. E seguraram aquela lágrima. Não a deixaram terminar de escorrer.
Releu o texto que escrevia. Juntava o teatro e a vida e as suas histórias e verdades. Os tais jogos cênicos. As tais ações, e escreveu. Transformava a sua respiração em narrativa. Quis ainda falar do outro, depois de discorrer sobre si, e não pode. O outro era algo tão puro que resumia-se apenas em um abraço. E em um olhar que ainda queria guardar.
AMOR
foram poucas palavras. silencio de quem ja nao tem nada a dizer. e sabe que esse silencio e esse nada a dizer vieram de tantas coisas que quase foram ditas, que quase foram vividas. quase confidentes pelo passado. sem mais tremores e temores. nao houve frio na barriga. nem mesmo vontade de estar. nem tristeza melancolica. ele foi. mas nao e mais. e e so.
um ano. enveredara-se pelos caminhos da realidade. por um instante ainda quis lhe dizer obrigada. mas nao o encontrou em sua imagem. sobrava-lhe uma lembranca irreal, carregada de sentido e de amor.
era puro ato de amor. amor por nao ser mais, tendo ja sido demais. amor por saber que ficara, mesmo agora indo embora. mas amor. e era no adeus que podia entender essa palavra. vontade de sorrir. amor amor amor.
passagens por um ponto de onibus. partidas. atravessou a rua. e nem mesmo olhou para tras.
um ano. enveredara-se pelos caminhos da realidade. por um instante ainda quis lhe dizer obrigada. mas nao o encontrou em sua imagem. sobrava-lhe uma lembranca irreal, carregada de sentido e de amor.
era puro ato de amor. amor por nao ser mais, tendo ja sido demais. amor por saber que ficara, mesmo agora indo embora. mas amor. e era no adeus que podia entender essa palavra. vontade de sorrir. amor amor amor.
passagens por um ponto de onibus. partidas. atravessou a rua. e nem mesmo olhou para tras.
Pronominal
Com teu nome quis inventar uma história, quis descobrir, ser e te ter. Com teu nome eu quis gritar teu nome, quis ouvir o meu. Com meu nome eu tentei ser alguém e tentei não ser. Ser, conhecer o mundo, a verdade. Cheguei à conclusão que verdade não existe. Descobri a verdade. Vivi.
Vivi e não sei o significado disso. Mas vivo disso: vivo de ter vivido e de viver. Tentei trazer teu nome a isso. Vivi de teu nome e para teu nome, para teus olhos.
Pensamentos fragmentados. Como linhas cortadas, interrompidas. Quis dizer mil coisas, disse absolutamente nada. Ou absolutamente nada, disse mil coisas. Talvez teu nome não entenda nada disso. Sim. Ou não.
Vivi e não sei o significado disso. Mas vivo disso: vivo de ter vivido e de viver. Tentei trazer teu nome a isso. Vivi de teu nome e para teu nome, para teus olhos.
Pensamentos fragmentados. Como linhas cortadas, interrompidas. Quis dizer mil coisas, disse absolutamente nada. Ou absolutamente nada, disse mil coisas. Talvez teu nome não entenda nada disso. Sim. Ou não.
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