sexta-feira, 23 de novembro de 2012
fuga
Fugi. Vesti a calça azul que estava jogada em cima da cadeira e aquela blusa laranja mesmo. Sem combinar. Deixei as luzes do meu quarto acesas, pra não suspeitarem de minha ausência. Abri devagarinho as persianas e as janelas e descobri as vantagens de morar no térreo. Subi a rua com pressa. Escuro. E nem percebi que a essa hora da noite já não tinha mais metro. Então resolvi ir seguindo. Andando pela paulista a noite. De verdade, dessa vez, anônima e invisível, a rua vazia. De vez em quando alguém passava. Continuei andando, sem muito rumo, por dessa vez fugi sem fazer planos. Tinha pensado em deixar o celular em casa, mas não consegui. Pensei que seria bom deixá-lo ligado para ver quem me procuraria Continuei andando, com um pouco de medo, por estar muito escuro. O dia me encontrou na rodoviária. Parti em direção a santos. E quando me dei conta, meus pés estavam dentro da água. E só aí me apareceu um sorriso. E lá eu nem percebi que a dor de garganta que me incomodava ontem, já não estava mais. Já não estava ali o excesso de coisas não ditas. Quis sentar-me para escrever. Iniciei com as mesmas palavras de sempre. O mesmo jogo de tentar escrever e não conseguir. Tentar rir e não conseguir. Tentar chorar... Desisti de escrever. Era melhor só olhar para o mar. E imaginar, saboreando quase maliciosamente, como cada um descobriria que eu fugi. E pensei em ligar para alguém e desisti. Era melhor esperar. Comprei uma água de coco. Um milho. Fugi deixando um trabalho salvo no meu computador. Fugi deixando as férias remuneradas. Fugi deixando promessas. Fugi sentindo falta de promessas. Fugi com o celular ligado, não para atender ninguém, mas por curiosidade. Ele tocou algumas vezes. E eu nem fui ver quem era. Me interessava saber que ele tocava. Mas o quem não. Porque eu fugi sem contar para ninguém. Paradoxalmente postei no facebook;.
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Texto maravilhoso. Como sempre. Adorei.
ResponderExcluirLinnnndoooo!!!!!! muito bom querida!
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