Não se parecia com ela. Desde aquele corte de cabelo estranho àquelas lágrimas sem controle na face. Não era como se houvera mudado. Aos seus olhos a explicação era mais triste, mais determinista. Aliás, olhos tão estranhos esses. Não se reconhecia nos seus olhos, nem a seus olhos, nem por seus olhos.
Era incômodo sentir como se algo falasse por si, agisse por si.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
domingo, 11 de setembro de 2011
11 de setembro
Ela, com o mundo entalado em sua garganta (de um jeito que só os TCCzistas podem compreender) não queria voltar pra casa. Saiu da faculdade com ele, como fizeram tantas outras vezes. E saíram para comer um cachorro quente.Só que como ela não comia cachorro quente, comeu um pão de morango com chocolate. E se melecou inteira como criança. Eles riram.
Ele riu. Ela riu. Sem darem as mãos (apenas tocando-as vez ou outra), seguiram. Seguiram pelo metrô, pela avenida paulista. Sem saber porquê, foram parar no conjunto nacional. Lá de onde ela gostava. De lá de cima, onde podiam ver a querida avenida. De uma noite que se tornaria querida. E se olharam. E pra fugir dos olhos dele, ela olhou pra frente e disse algo não muito poético: “Olha o itautec!”. Mas para eles foi quase poesia, porque os dois perceberam que foi quase um beijo, quase um abraço, quase uma declaração.
Um flash depois (desses flashes da nossa memória), eles estavam sentados na mesa de uma lanchonete. Brincando de “sério”. De tanta vontade que tinham de se olhar. E ela perdia a brincadeira de propósito, porque ele a desconcertava.
Então, ela o acompanhou até o ponto. Ele a abraçou. E se beijaram. E mais uma vez ela veio com algo não tão romântico (eita menina teimosa), lhe dizendo que não sabia se era uma boa ideia. Ele concordou que talvez não fosse. Mas, apesar de suas palavras, não conseguiram se largar. E acordaram que era só durante aquele dia. Combinaram tão bem combinados que trocaram mensagens assim que chegaram em casa. E combinaram tão bem combinados que sábado foram a uma festa juntos, na qual combinaram que ninguém precisava saber deles (e é claro que todo mundo ficou sabendo). Combinaram também que não iam namorar. E nem preciso dizer que quebraram esse combinado também.
Ah! essa história começou num dia 11 de setembro. Há três anos atrás...
sábado, 10 de setembro de 2011
Pequenos
Ela quis escrever em terceira pessoa sobre felicidade.
Ela quis escrever em terceira pessoa.
Ela quis escrever.
Ela quis.
Ela.
Calou-se.
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quis escrever um texto sem pontos sem virgulas e sem paradas
outalvezjuntarasletrasassim
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Momento que não tem tempo. Se chama instante.
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Chouveu de novo a chuva que chorou por mim...
Chorou de novo a chuva que choveu por mim...
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"Sou uma gaivota. Não, não, não, sou uma atriz. Uma atriz."Nina se descobre atriz quando se nega gaivota.
Em busca da laicidade do teatro.
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Ainda tentava brincar com as palavras.
Riu-se. E só.
"something is changing beside you and don´t you know"
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Ele coube em seus bracos e transbordou. Depois bordaram um abraco. E foram por um instante um. Eternidades.
E ela quis declarar que era tambem feita de despedidas.
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para o meu cariño
Dele tinha umas saudades que tomavam todo o seu corpo. Umas saudades que chegavam assim, de repente, e dava uma vontade incontrolável de dizer: cariño. Dele tinha umas saudades, que eram assim, gosto de morango. E mesmo sendo saudades, dela tinha uma sensação de não estar mais sozinha.
E nele tinha um sorriso bonito. E nela, uma risada que era só dele. Ou só pra ele. Ou só daquele sorriso dele.
E eles tinham carinho.
Para o meu cariño.
A recepcionista (uma de nossas mulheres)
O relógio apita: são
seis horas da manhã. “Droga”, ela pensa, “só mais cinco
minutos”. Ah! Esses famosos cinco minutos. E mais cinco, e mais
cinco. Meio em transe, dorme e acorda, até que se assusta: “Já
está tarde”. Durante o café da manhã, lê o jornal. Lê as
primeiras notícias, mas se engasga na matéria cobre maneiras de
investir o seu tempo. É melhor apressar-se. Escova os dentes e cospe
a espuma, como se cuspisse junto com ela, seu sono.
Se arruma, se apruma,
se veste. E guarda seus sonhos e suas vontades lá numa gavetinha
escondida dentro de si. Se prende no uniforme. E assim, inicia mais
um dia de trabalho. Digita, o telefone toca algumas vezes. E inventa
mil desculpas ao telefone, porque o seu chefe está lá dentro e não
quer ser incomodado. Talvez esteja lendo o jornal, jogando paciência.
Ou... quem sabe esteja com a Ritinha. Acha que é melhor não
conjecturar muito. Volta ao trabalho.
Um e-mail inesperado.
Fica feliz. Será que usa aquela lingerie? Ah! Esse maldito telefone:
“Alô, me desculpe, o Sr. Alberto está em reunião, anoto o seu
nome e ele já te retorna”. Será que usar a lingerie, deitar-se
com ele assim de primeira, é se oferecer muito? “Porra, cadê a
Marcinha que não entra no msn?”
Chega o seu Alfredo,
“Aquele chato”. Vamos lá, recepcioná-lo. Paradoxalmente, é
obrigada a se oferecer para ele, oferecer seu melhor sorriso, sua
simpatia (o que é quase como ter que oferecer o seu corpo todo). E
ele lá, com as mesmas gracinhas de sempre. “Velho chato”.
Finalmente ele se foi.
“Só” faltam mais cinco horas de trabalho e o escritório está
tão calmo. Tantos relatórios, e-mails. E assim, um marasmo lhe
assoma, um cansaço daquilo tão feito, refeito, repetido.
Lentamente, digita até cair no sono.
(texto de um processo que conta com Fernanda Moreno e Flávia Coelho)
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