E insistiu em falar dele. Acreditou que dessa vez encontraria as tais palavras bonitas. Acreditou e pode ser até que se decepcionasse ao longo do texto. Mas ao som de Arnaldo Antunes quase arriscou-se a escrever em primeira pessoa. Riu-se. Quis encontrar palavras tão puras e belas como as da música: "te fazer feliz dos pés à ponta do nariz".
"Da orelha até o fim do mundo"? Outros lhe respondiam Pa-la-vras. Estranhou. Já tinha as dito alguma vez. Até seguido depois e quase apesar delas. Brincara com as letras em despedidas. Mas algo era maior do que aqueles desenhos. Descobria o que o mundo inteiro parecia já ter descoberto? Quis acreditar que era um achado só seu.
Aqui-agora. Havia um pulsar. Uma vertigem. Verdade. E lhe invadia em um sorriso. Vertigem. Podia então sorrir e seguir. (Já se sentira inteira seguindo apesar das palavras). Não quis. Des-palavreou-se. Negou os sentidos das letras.
Quis só olhar e dar as mãos. Hesitou, mas sentia-se "apaixonada pela primeira vez na vida". E pela primeira vez na vida não era adjunto adverbial de tempo. Era adjunto adnominal de sentimento. E havia um pulsar. Aqui-agora.
Pois é, decepcionou-se com as palavras. Não eram puras e nem bonitas. Nem falam do medo. Do sorriso. Do pulsar. Da vertigem. Nem da vontade que ele coubesse em seus braços e transbordasse.
Quis resumir em um abraço ou viver o tal abraço e transbordar.
Palavras. Despalavreou-se. As letras não pulsavam. Mas quisera que fossem bonitas. Decepcionou-se. (Riu-se. Quase em rubrica ainda queria tanto dizê-lo!)
Arrancou a folha de papel do caderno. Bolinha. Jogou no lixo.
(Sobrou um silêncio recheado de pulsares, sorrisos e verdades)