quarta-feira, 18 de abril de 2012

E lá foi ela, voltar a alguma página em branco para desengasgar as imagens e as palavras amontoadas na sua garganta. Ontem elas dançaram até que ela sentisse as pernas bambearem. Até que ela dançasse por cima de suas pernas, de suas angústias e retomasse o controle das suas pernas. E bambeava também nas palavras e nas frases. Parecia não ter esperança de que algo saísse bonito. Escrever era doído, assim como era esse cotidiano, essa "vidadegentegrande".
Não tinha palavra melhor que essa: frustrada. E a frustração carregava um desengano, que aumentava a frustração, que aumentava o desengano. Queria pedir desculpas e dizer que não havia se formado para isso. E como não acreditava, não sentia tesão, parece que tinha se feito um nó, um nó que aumentava a cada volta da bola de neve, a cada sentido des-sentido.
Não por acaso a sua porta de entrada para Arnaldo Antunes era Socorro. Não sentir para ela era a maior dor. E lá, infelizmente ela não sentia. Não conseguia compreender como não se sentia empolgada nem mesmo em participar de uma greve, de uma organização de classe. Com que pretensão inconsciente ela não se sentia dessa classe. Ela era professora. Ou pelo menos estava professora (e professora de artes, sim, por mais que não quisesse). E não tinha como negar esse desencanto. Desencanto que ia pesando em suas costas, cumulativamente mais curvada. Eu sua voz, que se acumulava nas bolas entaladas em sua garganta. Na falta de seus textos. inconsciente Passava as aulas pensando nas palavras que ouvira de sua última diretora. O que havia se perdido no caminho de são bernardo a são paulo? Por que as suas aulas, diferentes das de outros professores, segundo a diretora, se tornara igual à de todos (ou a dos piores)? Por que as palavras lhe faltavam e não conseguia escrever? Por que a vertigem lhe tomara conta, suavemente, levando os seus pés,, suas pernas, seu estômago, suas crenças e suas aulas?